Se não mágica, o que?

Uma reflexão sobre como mesmo que a existência individual da humanidade como um todo são irrelevantes na grande escala do universo, mas mesmo assim os simples sentimentos humanos que experienciamos tem um poder comparável com o infinito.

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Artwork: Isabel Rique / Text: Isa Bernstein

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“Eu sou uma pessoa muito cética, mas às vezes me pego pensando se talvez eu acredite em mágica. Talvez essas duas coisas não sejam paradoxos, porque quanto mais eu penso sobre mais me parece uma coisa não existe sem a outra.

Nunca acreditei em muito; sempre fui fascinada pela realidade, pelas coisas que, de alguma forma, conseguimos entender sobre o lugar onde existimos. É engraçado pensar que quanto mais crescemos, mais vamos entendendo o quão pequenos somos. Quando bebês, nosso mundo inteiro é nosso corpo, nosso berço, as vozes que escutamos e braços que nos envolvem.

Os anos passam e vamos entendendo que nossa casa é uma de milhões, que todo mundo que vemos na rua tem tantos sentimentos e pensamentos e memórias quanto a gente. Vamos entendendo que o conjunto de todas as pessoas que vamos conhecer na vida e todas que não vamos são apenas uma pequena porcentagem de todas que já existiram durante a história da humanidade, e que a história inteira da humanidade é apenas uma pequena parte da história desse planeta, que é só um planeta entre os oito do sistema solar e bilhões da Via Láctea, que é uma em possíveis trilhões de galáxias existentes no universo observável.

Nossa existência como indivíduos é provavelmente irrelevante pra humanidade como um todo, que por sua vez será um dia apenas um sopro na história desse planeta que é só mais um de uma quantidade tão grandiosa que nossos cérebros não são capazes de entender.

Nossa existência como indivíduos é provavelmente irrelevante pra humanidade como um todo, que por sua vez será um dia apenas um sopro na história desse planeta que é só mais um de uma quantidade tão grandiosa que nossos cérebros não são capazes de entender. E mesmo assim, quando sua mãe te abraça depois de um dia ruim, ela é a única coisa que importa e já importou. Uma mão segurando a outra, um mergulho no mar gelado que quebra a onda em infinitas bolhas, um coração partido, dedos deslizando por um piano, o momento em que ele encaixa a mecha de cabelo atrás da sua orelha: de alguma forma, em nossa resistência irrelevante e inevitavelmente esquecível, por coisas tão pequenas nossos tolos corações são capazes de sentir tão infinitamente quanto são as estrelas.

Se isso não é magia, o que é?

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