Qual sua história com seus cabelos?

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Por Luciana Pianaro

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Eu sou uma pessoa branca, com cabelos castanhos, lisos, grossos, e por sorte da genética, abundantes. Hoje, estão na altura dos ombros, mas já os tive bem compridos. Lembro-me do início da adolescência quando minha mãe me levou para cortá-los bem curtinho, pois a juba estava infestada de piolhos e ela não vencia mais cuidar. Talvez um dos meus primeiros traumas. Chorei alguns dias sem parar. Já adulta, passei por algumas fases agudas de queda por questões hormonais (hipotiroidismo) e na amamentação de meu filho, também perdi muitos fios. Hoje, próxima aos 50 anos, sinto uma mudança na densidade e textura dos fios, demonstrando as mudanças hormonais de uma mulher na menopausa. Já os fios brancos que surgiram antes dos 30 anos, eu ainda os dissimulo, com tinturas mensais. 

Em cada fio de cabelo (presente ou ausente) há uma história de vida a ser contada. Mais do que a expressão estética, nossos cabelos são um espelho da nossa herança genética, de saúde, de doença, de estados emocionais, de um momento de vida, de tradição religiosa ou mesmo, padrões de beleza definidos em algum momento da sociedade. Nossos cabelos são um diálogo vivo entre nosso mundo interno com nosso mundo externo. 

Em algumas tradições religiosas ou espirituais, os cabelos têm um significado profundo, ligado à condutas e práticas religiosas, à sabedoria, ao respeito, à força e à espiritualidade. De uma perspectiva muçulmana, algumas mulheres usam o hijab, por conduta e respeito às práticas religiosas. Para os yogis, os cabelos são um incrível presente da natureza que pode realmente ajudar a elevar a energia Kundalini (força vital criativa), o que aumenta a vitalidade, a intuição e a tranquilidade. Já para monges e monjas da tradição budista, raspar o cabelo é uma forma de deixar o apego à vaidade e a preocupação com a aparência de lado e se focar na busca da verdadeira felicidade interior. 

Já a imposição de padrões de beleza influencia não apenas a maneira como as pessoas são vistas pela sociedade, mas também como se veem. Todos os dias vemos relatos indicando que crianças negras e de minorias enfrentam bullying e discriminação na escola por causa de seus cabelos, o que pode levar a uma baixa autoestima e a problemas de identidade desde uma idade muito jovem. A necessidade de “conformidade” estética pode impor um fardo psicológico significativo, onde o ato de “arrumar o cabelo” torna-se não apenas um ritual de beleza, mas um esforço para navegar e sobreviver em uma sociedade que constantemente sinaliza que “diferente” não é aceitável. 

Ao entendermos que cada fio de cabelo carrega em si uma narrativa individual e única, começamos a apreciar a profundidade e a riqueza desse componente de nosso corpo na formação de nossa individualidade. E, assim como as tradições religiosas e espirituais respeitam e honram os cabelos como extensões da essência e da espiritualidade do indivíduo, a sociedade como um todo deve evoluir para reconhecer e celebrar a diversidade capilar como uma manifestação de identidade única e rica, essencial para o tecido de uma humanidade mais justa e igualitária.

Refletindo sobre minha própria jornada capilar, percebo como cada fase da minha vida está intrinsecamente entrelaçada com a saúde, o estilo e o momento da minha vida. Desde as lágrimas derramadas por aquele corte forçado na adolescência até os desafios hormonais atuais da menopausa, minha história capilar é uma pequena amostra das diversas experiências que me moldaram até agora. 

Reconhecer a diversidade e a riqueza das histórias contadas por nossos cabelos é um convite à empatia, à autoaceitação e ao respeito mútuo. Em última análise, cada fio de cabelo, presente ou ausente, fala de nossa conexão inegável como humanidade. Por fim, a verdadeira beleza reside na diversidade e na capacidade de celebrar cada história única que nossos cabelos têm para contar. 

Sobre Luciana: 

A genética foi generosa comigo quando diz respeito a cabelos. Mesmo assim, já sinto eles menos abundantes do que foram na juventude. Talvez algum dia os deixe branquinhos. Ainda não sei. 

Sou entusiasta do autoconhecimento e da valorização da individualidade como forma de evoluirmos como sociedade. É para meu filho Erik e todas as crianças, que luto todos os dias por um mundo melhor através de meu trabalho como CEO da Vida Simples.

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