Percebi que nós, homens, principalmente os da minha geração, não fomos criados com um repertório farto para o amor.

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Por Vinicius Zimbrão

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Que desafiador escrever sobre o amor, o tema escolhido para a Voz Futura deste mês. O mais curioso é que, quando falamos de amor, percebo pessoas que se conectam logo com o tema e outras que torcem o nariz para ele. Confesso que, por muito tempo, fui esse cara que torcia o nariz. Mas, mergulhando em meus estudos sobre questões de gênero e masculinidades possíveis, percebi que nós, homens (principalmente os da minha geração), não fomos criados com um repertório farto para o amor. Crescemos acostumados a receber amor e cuidado das mulheres que nos cercam, mas dar amor e cuidar das pessoas e relações não é algo muito comum para nós.

Além disso, quando falamos de amor, logo surge aquela referência de amor romântico que aprendemos nos filmes ou contos de fadas. A verdade é que o conceito de amor é algo muito subjetivo, cultural, temporal e carregado de interseccionalidades, ou seja, vai depender do contexto em que crescemos e, consequentemente, de como o amor nos foi apresentado.

Pesquisando sobre o tema, encontrei vários artistas, pensadores e filósofos que ousaram conceituar ou falar sobre o amor. Percebi que não existe um conceito único, cartesiano ou unânime, comprovando a minha ideia inicial de que o amor é subjetivo. Como bem escreveu Machado de Assis, “Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar.” (Ressurreição, 1872).

Para Aristóteles, “o amor é composto de uma única alma habitando dois corpos”, uma maneira bem mais romântica e profunda de ver o amor. Para os estoicos, como Epicteto, “Amar é desejar que aqueles que amamos sejam como são, e não como queremos que sejam.” Já para Lacan (importante psicanalista que reinterpretou e aprofundou as teorias de Freud), o amor é fundamental para a experiência humana, mas também fonte de grande conflito e mal-entendidos. É dele a célebre frase: “O amor é dar o que não se tem a alguém que não o quer.”

Para mim, que cresci com referências limitadas sobre o amor e busco aprender a cada dia, gosto da definição de bell hooks, que via o amor como uma prática ética e um compromisso ativo, destacando a importância do cuidado, responsabilidade e justiça. Essa visão desafia a noção convencional de amor como apenas um sentimento romântico e impulsiona as pessoas a verem o amor como um ato de vontade e uma prática que pode transformar vidas e sociedades.

Eu penso que a perspectiva de bell hooks sobre o amor como ação é profundamente empoderadora e prática. Ao ver o amor não apenas como um sentimento, mas como um conjunto de ações e escolhas conscientes, somos incentivados a agir de forma mais responsável e intencional em nossos relacionamentos. Isso nos lembra que o amor exige trabalho e dedicação contínuos, e que as ações falam mais do que palavras ou sentimentos passageiros.

Essa visão também se alinha com muitas tradições filosóficas e espirituais que veem o amor como uma prática ética e um compromisso com o bem-estar dos outros. Enfatizar o amor como ação pode ajudar a criar relacionamentos mais saudáveis e sociedades mais justas, pois promove a ideia de que amar é cuidar, respeitar e agir com compaixão continuamente.

“O amor é uma atividade, não um afeto passivo; é um ‘ficar’ contínuo, não um súbito ‘começar’.” (Erich Fromm) Que tal amarmos todos os dias?

 

Por Vinicius Zimbrão

Professor e Jornalista.

 

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