Mistérios sobre nós

Uma reflexão sobre a aleatória coincidência que é o sol ser quatrocentas vezes maior do que a lua e estar exatamente quatrocentas vezes mais distante da Terra, fazendo com que daqui da Terra os enxerguemos do mesmo tamanho.

Data

Criador

Artwork: Duda Bretas / Text: Isa Bernsteinn

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45 minutes

O Sol é cerca de quatrocentas vezes maior que a lua, mas da Terra os enxergamos do mesmo tamanho. O diâmetro do Sol é de 1400000 quilômetros, enquanto o da lua mede 3500. O curioso é que além de quatrocentas vezes maior do que a lua, o Sol também se encontra exatamente quatrocentas vezes mais distante da Terra. Daqui de nosso pequeno planeta azul e verde, os dois têm o mesmo tamanho por absoluta, completa coincidência.

Você pode atribuí-la a um criador ou arquiteto, se for o que parecer mais possível entre as probabilidades razoáveis. Eu sou tão cética quanto sou humana, mas frequentemente olho em volta e fico tão fascinada pela beleza desse mundo esquisito que é difícil acreditar que ela não foi feita sob medida para nossos olhos. Mesmo assim, se eu tivesse escolha, continuaria escolhendo acreditar que é tudo completamente aleatório. Isso me lembra da sorte que tenho de ser uma mera, insignificante testemunha.

A lua está gradualmente se afastando do planeta Terra, o que significa que um dia os humanos irão olhar o céu e não verão mais o perfeito encaixe entre o Sol e a lua, a ilusão de grandeza que é o tipo de ficção que humanos gostam de compartilhar um com o outro. A lua está se afastando da Terra de dia em dia, o que significa que vivemos no limitado período da história da humanidade em que essa improvável coincidência enfeita nossos céus. Quando a lua já estiver longe demais, encontraremos substitutos para o eclipse, outras manobras do acaso para chamar de nossas e às quais berraremos nossos desejos mais frustrados e humanos. O mistério de nossa existência e nosso desespero para desvendá-lo talvez sejam as grandes constantes do nosso curto tempo nesse planeta inacreditável. São mistérios fascinantes demais para que sejam compreendidos, como diria a poeta Mary Oliver, e que eu me mantenha distante daqueles que acham ter as respostas. Deixe-me sempre na companhia daqueles que dizem “olhe!” e riem deslumbrados, a cabeça inclinada em direção ao céu.

São mistérios fascinantes demais para que sejam compreendidos, como diria a poeta Mary Oliver, e que eu me mantenha distante daqueles que acham ter as respostas. Deixe-me sempre na companhia daqueles que dizem “olhe!” e riem deslumbrados, a cabeça inclinada em direção ao céu.

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