Educação Como Parte do Sistema

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Por Vinicius Zimbrão

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Na reunião mais recente da Voz Futura, Pedro Pirim propôs o tema educação, sugerindo insights para nossos textos futuros. Imagine nosso grupo diverso e antenado, repleto de educadores de diversas áreas, contando com a participação especial do Boss Danilo Luiz em nosso encontro mensal. (Nota: Ele vai detestar ser chamado de “Boss” — é brincadeirinha!)

A conversa percorreu temas como religião, economia, política, sociedade e patriarcado, mas um ponto que me chamou a atenção logo no início foi a distinção entre bons e maus alunos. Discutimos sobre aqueles considerados maus alunos na escola que se tornaram pessoas brilhantes e sobre bons alunos que parecem ter ficado limitados. Isso levantou várias questões: o que realmente determina se um aluno é bom ou mau? Seriam as notas? O comportamento? O compromisso com os conteúdos oferecidos? O sistema de ensino? O que é o sistema, na verdade?

A meu ver, isso nos conduz a uma reflexão sobre inadequação. Ou seja, se você não se encaixa no sistema de ensino, você não é considerado um bom aluno. Mas, avaliar todas as pessoas da mesma maneira, como acontece na maioria das escolas, nos dá realmente o direito de definir quem é bom ou mau aluno? Estaríamos limitando o aprendizado ao colocá-lo em “caixas”? E quanto às escolas religiosas ou militares, onde todos devem se comportar de uma maneira específica?

Essas provocações não são para fazer um juízo de valor sobre qual escola é melhor ou pior. Creio apenas que a melhor escola seria aquela que permitisse e estimulasse as mais diversas formas de desenvolver individualidades e potencialidades.

A Mari Mel trouxe uma reflexão ainda mais profunda: como seria, hoje em dia, se não houvesse escolas? Ela destacou a escola como um local essencial de convívio coletivo e social, reforçando a importância de se relacionar com o diferente de você e de sua família.

Edu Valadares mencionou o “SUS” (Sistema Único de Sucesso, apelidado por ele), compartilhando sua experiência de anos na educação e preparação de jovens para suas carreiras, sempre com uma supervalorização de provas e vestibulares, selecionando assim os maus e bons alunos.

Essa observação dele inspirou uma reflexão em mim, sobre como a educação nas escolas está inserida, agora sim, em um sistema, ou seja, se vivemos em sociedade, inseridos na política, economia, modo de viver de um grupo de pessoas, podemos considerar que fazemos parte desse sistema e nele há interesses para que se mantenha funcionando e privilegiando alguns em detrimento de outros. De uma maneira geral, as escolas educam para a manutenção e perpetuação do citado sistema, estimulando a competição, a meritocracia, a seleção natural, o racismo, a misoginia num mundo onde poucos devem continuar dominando muitos, com pouca possibilidade de inclusão e valorização das diferenças e diversidades. 

Em tempo, peço que leiam estas palavras com a mente e o coração abertos. Este é um convite à reflexão muito mais profunda e filosófica. Afinal, por sofrermos essa dominação há séculos, às vezes questionar pode parecer utópico ou algo muito fora da realidade, porque “sempre foi assim”, nem cogitamos que poderia ser diferente.

Reconheço que houve muitos avanços no campo da educação, com propostas mais inclusivas, humanizadas, afetivas e construtivistas, onde o aluno é ativo no processo de ensino-aprendizagem e não apenas receptor e assimilador de informações. No entanto, isso ainda está longe de ser a forma predominante.

Pensemos, por exemplo, na supervalorização do diploma. Já questionou por que um médico, um engenheiro ou um advogado deveria ganhar muito mais do que outras profissões, como professores, garçons, motoristas, marceneiros ou porteiros?

Você pode pensar que eles estudaram e investiram em suas carreiras, portanto, merecem. Sim, não questiono os sacrifícios e os investimentos de cada um. Mas perceba que voltamos ao sistema.

Imagine um mundo onde a competição e as diferenças sociais não fossem tão importantes e exaltadas? Talvez valorizaríamos cada indivíduo dentro da sociedade pelas potencialidades do seu ser, de maneira mais justa e menos desigual.

Por Vinicius Zimbrão

Professor e Jornalista.

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