Cabelos.

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Por: Vinicius Zimbrão.

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A Voz Futura nasceu da vontade de seus fundadores criarem conteúdo propositivo em busca da melhora da saúde emocional de todos a nossa volta. Imaginem como são nossas reuniões de pauta e o que esse grupo de pessoas tão animadas, sensíveis e engajadas, nas mais diversas questões sociais, discutem e elaboram para gerarem as pesquisas e artigos?

Foi o que aconteceu na última reunião, quando o Pedro Pirim trouxe um tema, num primeiro momento inusitado, mas depois de muita conversa e ideias, cheio de profundidade e questões bem mais filosóficas e sociais: “cabelos.”

O cabelo é mais do que uma mera característica física, é um símbolo poderoso que reflete as nuances das sociedades e da cultura, entrelaçando-se com questões de gênero, comportamento, raça, religião e identidade. Para muitos, como no meu caso, que cresci nos anos 80 e 90 e optei por manter os cabelos longos dos 17 aos 28 anos, o cabelo foi um componente essencial da minha autoexpressão e da minha identidade.

Durante esses anos formativos e transformativos, o cabelo representava uma forma de rebelião, uma afirmação de individualidade, uma preferência estética que se alinhava com as tendências daquele momento. Para mim, esse estilo era mais do que uma moda, era uma extensão de quem eu era, um elo com uma comunidade, um movimento ou uma época.

Até decidir cortá-lo, foi um longo caminho, pois sentia um medo profundo, quase como se estivesse perdendo uma parte de mim mesmo. Afinal, meu cabelo longo era meu cartão de visita, minha maneira não verbal de dizer ao mundo quem eu era e em que acreditava.

Deu para perceber que o tema “cabelo” não é algo simples e implica em várias considerações e recortes também, que eu não teria condições e nem propriedade para trazer aqui nesse texto sem ser no mínimo leviano, portanto vou tentar me ater às minhas experiências.

Quando enfrentei um câncer de testículo e tive que passar por muitas sessões de quimioterapia, senti na pele os efeitos da perda dos cabelos na minha percepção de autoimagem e identidade. Mais do que uma mudança física, foi uma provação emocional, mesmo sabendo que os cabelos poderiam crescer novamente ao final do processo. Como eu valorizava tanto meu cabelo como parte da minha expressão e identidade, enfrentar sua perda trouxe à tona questões de vulnerabilidade e mortalidade, desafiando meu senso de autoestima e imagem.

Neste contexto, vale refletir sobre como a perda de cabelo afeta homens e mulheres de maneira distinta, especialmente durante a quimioterapia. Para muitas mulheres, a queda do cabelo pode ser uma experiência particularmente devastadora, visto que a sociedade frequentemente vincula cabelo longo e saudável à feminilidade e sexualidade. A falta deles pode, então, levar a um sentimento de perda de identidade feminina e de senso de si.

A relação entre cabelo e gênero é particularmente complexa. O que é considerado aceitável ou atraente para homens e mulheres varia enormemente entre diferentes sociedades e períodos históricos. Por exemplo, enquanto em algumas culturas homens tradicionalmente ostentam cabelos longos como símbolo de sabedoria e força, em outras, cabelos curtos são vistos como indicativos de masculinidade e disciplina. Da mesma forma, as sociedades ocidentais, de uma maneira geral, aprovam os cabelos brancos nos homens como algo bonito, charmoso e respeitoso, já as mulheres, precisam esconder os fios grisalhos para não serem vítimas de cobranças estéticas e etárias que recaem sobre elas.

Ao compartilhar um pouco das minhas experiências por aqui, convido você a refletir sobre como o cabelo influencia sua própria percepção de identidade. Como ele se relaciona com sua expressão de gênero, seu senso de pertencimento cultural ou sua história pessoal.

Em última análise, o cabelo é um diálogo entre o nosso eu interior e o mundo exterior, uma forma de arte pessoal que nos permite contar nossa própria história, expressar nossa singularidade e, até mesmo, desafiar as expectativas e normas sociais. Que cada um de nós possa explorar e celebrar essa expressão com liberdade e autenticidade. 

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