As pessoas estão cansadas

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Por Edu Valladares

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Não é mesmo? 

Peraí! Mas “quem estão cansadas”? Tudo depende do recorte, da cultura, da distribuição, do contexto, de que faixa etária, de que classe social… Faça um teste e pergunta para dez pessoas à sua volta: “Você gostaria de tirar férias amanhã? Ou até hoje mesmo?”. Espere a resposta e confira! De novo, porém, um alerta: quem são essas pessoas à sua volta? São todas parentes, colegas de trabalho ou de escola, seus/suas vizinhos(as)? 

Já ficou clara qual a proposta da coluna desse mês, né? Até que ponto estamos questionando nossas visões e reflexões? Até que ponto estamos abrindo nossas mentes para novas possibilidades e novos caminhos? Isso também serve para refletirmos mais e melhor sobre os conteúdos que acessamos e consumimos diariamente. Repito o exercício: “quem acessamos?”. É muito comum querermos generalizar e achar que tudo que passamos / sentimos / ouvimos / lemos chega até todas as pessoas. Pode até ser, mas nem sempre. Tem tanta barreira, janela, lacuna nessas análises. 

Quem fala bastante sobre isso é o  filósofo Byung-Chul Han, em seu livro ‘Sociedade do Cansaço’. Nele, há o debate sobre o conceito da “sociedade do desempenho”, para falar dessa obsessão por produzir e performar que se estabeleceu dentro do sistema capitalista. Por aqui, eu interpreto que isso também se verifica quando observamos a “sociedade que não dorme”. A sociedade que não desliga, que não para de consumir conteúdos… Você se identifica com isso? 

Já se pegou na seguinte situação? Você marca uma consulta médica ou está à espera de um ônibus, de uma carona ou até o início de uma reunião remota. É quase impossível hoje esperar… sem acessar o celular no bolso, sem rolar o feed das redes sociais, sem querer ver, ouvir, ler [qual foi a última] de hoje? Ao mesmo tempo, o quanto isso não nos abala emocionalmente? Pode ser por conta, na maioria das vezes, do volume de notícias trágicas, catastróficas, sensacionalistas. Você até acordou bem, você até estava animado(a) antes de acessar aquele celular ou resolveu ligar a TV… E aí, tudo caiu por água abaixo. 

Claro que aqui não estou fazendo nenhuma apologia de que não temos que nos informar, nos relacionar, saber dos fatos e episódios em nossa comunidade, ok? Pelo contrário: viver em sociedade implica vida coletiva também. Mas estamos vivendo uma epidemia – uma espécie de rolo compressor – do cansaço. Então, uma coisa é fato: precisamos passar por um entendimento de que devemos nos dar limites. 

Como sempre gosto de dizer: pra tudo que estamos querendo aprender, precisamos de uma intencionalidade. Não basta desejar ou querer. É preciso se organizar para. Na intenção de te ajudar a melhorar a sua disciplina, deixo uma espécie de [guia das boas práticas] abaixo:

  1. Faça uma seleção e filtro de quais feeds você está interessado(a) ou disposto(a) a acessar em determinado momento. (você pode selecionar certos perfis e privilegiar que tipo de conteúdo consumir numa aba de favoritos – isso tem no Twitter(X), no Instagram e algumas outras redes);
  2. Escolha em quais horários você pode e deveria acessar os conteúdos;
  3. Busque fazer um detox (pode ser de horas, dias, semanas) de certos tipos de redes e conteúdos que você acessa cotidianamente;
  4. Procure fazer algo novo na sua rotina, porque isso o(a) estimula a sair de uma zona de costume nos hábitos e gera também essa procura por novos temas, assuntos, áreas;
  5. Tente encontrar outras formas de gerenciar sua sociabilidade. Nem tudo sempre precisa ser só estabelecido pelas redes sociais e será mesmo que você precisa estar ON todos os dias e horários? Não dá pra dar aquela “sumida” uma vez ou outra? Ou até você encontrar outras possibilidades de fazer sua comunidade ser mais diversa? 

Agora, olha que interessante perceber: há quem diga que estamos também, apesar de tanto consumo de conteúdo, vivendo sozinhos(as), numa espécie de epidemia da solidão. Será? De novo: “Quem estamos vivendo assim…?”

Um relatório da ABC Fitness mostra que os check-ins em academias tradicionais no primeiro trimestre de 2024 aumentaram 60% em relação a 2023. Mostra que a Geração Z é a que mais investe no ambiente. 29% das pessoas frequentadoras de academias são membros(as) da Geração Z e 38% das entrevistadas da Geração Z usam academias de ginástica tradicionais. Ou seja, malhar e ir à academia está fazendo parte da rotina de mais pessoas e também ajudando as pessoas na criação de uma comunidade. Essa relação de amizades com o bem-estar e com a saúde geraram um novo tipo de comunidade que já foi visto em décadas anteriores, mas retorna agora com mais força. 

Se for pra ficarmos cansados(as), que seja de exercício físico, pois traz muitos benefícios. E não de conteúdos tóxicos e que não agregam em nada à sua rotina. 

Sou Edu Valladares, questionador de futuros, curioso e otimista realista. Fundador da EDU VLLD – Educação & Vulnerabilidade, designer de aprendizagem, professor e palestrante. 

 

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