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Cynthia Neimi :: Ep.07

A psicóloga e artista visual Cynthia Neimi recebe Pedro Pirim no apartamento cheio de arte e cores que divide com o também pintor Marcelo Lamarca. Pedro explica que a Voz Futura acredita que todo mundo tem uma história inspiradora para contar e pede que Cynthia conte um pouco da dela, que começa, como a de todos nós, com o “trauma de nascer”, ela diz. Filha de dois comerciantes, ela cresceu na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Data

Criador

Interviewer: Pedro Pirim

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26 minutes
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A psicóloga e artista visual Cynthia Neimi recebe Pedro Pirim no apartamento cheio de arte e cores que divide com o também pintor Marcelo Lamarca. Pedro explica que a Voz Futura acredita que todo mundo tem uma história inspiradora para contar e pede que Cynthia conte um pouco da dela, que começa, como a de todos nós, com o “trauma de nascer”, ela diz. Filha de dois comerciantes, ela cresceu na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela conta que em sua casa, não havia cultura da maneira mais tradicional, mas cresceu com muita música e história, que era um interesse de seu pai. Escolheu estudar Psicologia e ingressou na faculdade, a PUC-Rio, na Zona Sul da cidade. Ela relembra da escolha da Psicologia como um ato quase rebelde, pois a expectativa era medicina e o escolhido era considerado “coisa de gente rica.” Na universidade, seu mundo começou a expandir-se e ela cada vez mais consumia cultura em diferentes formas; Cynthia se define como uma mistura das diferentes referências que coletou e agregou pelos lugares que passou. Após se formar em Psicologia, começou a trabalhar com styling de moda e aplicar muito do que aprendeu na faculdade no contato pessoal com clientes. Com o tempo, foi se apaixonando cada vez mais por arte e passou a agenciar seu parceiro Marcelo, que conheceu na faculdade, e eventualmente pintar também. 

Em relação ao choque cultural entre a infância na zona norte e a juventude na zona sul do Rio, Cynthia frisa que a transição foi importante para que seu mundo se expandisse. Ela sempre foi madura e sensível, desde criança exaltada pela percepção dos outros. Paralelamente, a psicóloga observa como o senso lúdico do ato de brincar foi se perdendo; para ilustrar, ela conta uma anedota da infância, quando sua timidez considerável levou os pais a levarem-na em uma aula de teatro. Quando ela saiu da experiência dizendo que brincou o dia todo, aquilo foi imediatamente vetado e considerado insignificante. Cynthia acredita que ao estudar psicologia e permitir-se escutar e voltar para si mesma, ela recupera o senso de brincar. Resgatando o exemplo de colocar uma criança tímida no teatro, Pedro questiona a psicóloga sobre sua percepção sobre a educação hoje. Cynthia, que trabalhou como psicóloga escolar por três anos, considera urgente trabalhar na individualização e diversidade dentro das escolas, além de focar mais no lado emocional dos alunos. Para ela, quanto mais individualizado o sistema for, mais as pessoas aceitarão a diversidade.

Acho que é um processo. Não posso dizer que cheguei nesse tal lugar que tem que chegar, de você se sentir confortável e bem sucedida. E eu diria que pra mulheres isso é muito mais difícil. Eu acho que não a toa a gente fala muito mais da síndrome da impostora do que do impostor.

Photo: Felipe Cantieri

Em seguida, Pedro questiona sobre o salto entre a psicologia e a moda que Cynthia deu em certo ponto de sua jornada. Ela reflete sobre a síndrome da impostora que sentiu por muito tempo devido à necessidade imposta de se encaixar em uma coisa só quando, na verdade, a moda foi uma transição natural que ela encontrou para expressar o lado artístico que sempre foi parte dela. Ainda sobre a síndrome da impostora, a artista reflete sobre como se sentir bem-sucedida é mais difícil para mulheres. Entre as mudanças necessárias nas estruturas de gênero, Cynthia reconhece que é um longo processo de renovação, enfatizando a importância de mulheres em cargos de decisão, além de educar meninos mais conscientes e buscar e compartilhar conhecimento. 

Em relação ao “culpado” pela pessoa sensível que se tornou, Cynthia conta que sua família foi imperfeita como todas, mas muito amorosa e presente. Ela supõe que famílias que criem seus filhos com essas características também são muito importantes para evoluirmos como sociedade. Além disso, ela menciona o senso de responsabilização necessário para nos tornarmos as melhores versões de nós mesmos. Cynthia valoriza muito a auto-reflexão, evolução e a quebra de padrões para buscar relacionamentos e ambientes saudáveis. Sobre o que quer levar de sua educação para a da filha, Yolanda, a psicóloga menciona amor e diálogo; por outro lado, deseja trazer mais individualização como mãe do que teve acesso durante a infância.

Questionada sobre projetos em que acredita, Cynthia conta sobre a Casa da Árvore, um projeto que nas palavras dela consiste em um espaço em comunidades cariocas onde psicanalistas e crianças brincam o dia inteiro, servindo como apoio às mães solo da comunidade. Uma história que a marcou naquele lugar foi a de como acabou por sair dali devido ao medo instaurado pela guerra que estava acontecendo naquela comunidade. Ela enfatiza que projetos assim precisam de apoio e cuidado para que possam continuar em situações como a que ela viveu. Cynthia acredita que as possíveis soluções são projetos de conscientização dentro da comunidade e principalmente políticas públicas.

Atualmente, as áreas de interesse dela se confundem mas são bem organizadas: Cynthia atua como psicóloga no consultório, a gente no escritório e pintora no ateliê. Por ser menos subjetiva, a última é a que ela considera mais difícil. Ela conta que pinta sobre mulheres, e é imensamente inspirada por histórias, talentos e imagens femininas. Conforme foi começando a pintar mais no início da pandemia, foi percebendo esse tema como uma manifestação da sua jornada pessoal. 

Cynthia reconhece sua essência mas afirma que sua voz muda constantemente e ela espera que continue mudando até o fim de sua vida. Ela frisa a importância do autoconhecimento e auto expressão, seja por um meio como arte ou a psicologia. Ela menciona a Casa da Árvore novamente e afirma que não quer mudar a voz de ninguém—na verdade, deseja que cada um aceite plenamente sua própria voz. Ao fim da entrevista, a própria voz de Cynthia deixa um ar de empatia no silêncio que nos lembra mais uma vez que é de conexão humana em conexão humana que se transforma o mundo.

Eu não conseguia exatamente ser olhada no individual por resistências, limitações daquele momento e daquelas relações. Mas eu quero muito conseguir fazer essa mudança e repetir a base do amor, da responsabilização, da escuta e do diálogo. Acho que isso transforma mesmo o mundo.

Photo: Felipe Cantieri

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